quarta-feira, 17 de abril de 2019

O LADO ANALISTA DE UM ADVOGADO

Sem querer ferir os princípios da psicologia, em que os que os analisam em consulta psicológica devem, por imprescindível, terem logrado diploma de psicólogo com os aprendizados ínsitos à profissão. Isso eu não tenho!

No entanto, Caetano Veloso arrematou com precisão em canção Vaca profana de sua autoria, que [..] ninguém de perto é normal [...]. Deste modo e neste contexto carregaria consigo traços que, para alguém mais exigente, configuraria  um problema/transtorno de ordem psicológica. Toc, fobia, trauma etc.


Certa feita em conversa com um colega em trabalho, ele psicólogo renomado no sertão, acabou me confessando que todos carregam sintomas de “transtornos psicológicos”. No entanto, só se pode diagnosticar um transtorno - de fato - quando a sintomatologia for acentuada e que acabe gerando um desconforto contumaz ao paciente.


Pois bem!


Atendo diversas pessoas de todas as classes sociais e étnicas – do sertão bem sertanejo à praia mais mansa e tranquila do nosso Sergipe - nestes atendimentos diversos traços são expostos e eu, por óbvio, devo interpretá-los para que eu possa utilizar em meu trabalho, quer defendendo-o, quer litigando contrariamente.


No entanto, em alguns momentos a interpretação somente não basta, o ser humano que mora dentro de mim fala mais alto e inevitavelmente a acolhida começa ser dada. As vezes temos que fazer uma intervenção mais carinhosa e típica; noutros momentos não, a intervenção é mais dura e em outros, ainda, não conseguimos perceber o problema instalado [Que é o pior!].


Tudo isso, naturalmente, sem adentrar a seara da psicologia propriamente dita. Quem deve ser analista é o Psicólogo, todos que tentarem analisar sem formação profissional e preparo técnico poderá prejudicar sobremodo as pessoas acometidas de devaneios psicológicos ou psiquiátricos.


Esta semana atendi uma pessoa, por sinal uma dileta pessoa, que ao que percebi estava duramente abalada e com sintomas claros de depressão que me deixou preocupadíssimo com o seu estado de saúde.


Tentei encontrar o problema e o motivo dela chorar e bradar, mas, sinceramente, não o encontrei. A ida ao meu escritório era para uma coisa tão simples, tão fácil de resolver, que aos olhos de qualquer um não havia motivo para aquele desespero.


Ou havia?


A literatura psicológica não trata estes “problemas psicológicos” como um evento isolado, frio e demarcado no tempo. Pelo o contrário, a literatura psicológica explica estes eventos, em sua larga maioria, como reflexo de uma vida inteira [Vida infantil, jovial ou até adulta desregrada do ponto de vista sentimental].


Isso mesmo. Atualmente as pessoas são instadas a não viver sentimentos ruins: não podem sentir raiva; não podem sentir medo; não podem sentir a amiga solidão, enfim, não podem chorar sob pena de serem taxados como fracos.


E por aí vão juntando e guardando estes sentimentos dentro dos seus corações sem terem vivido. Deixam de viver a raiva, por exemplo, em seu momento, e, importante dizer, permitindo o perdão em sua sucessão para ficar com aquela mágoa guardada e sufocada dentro. Libertem-se!


Raimundo FAGNER em brilhante canção REVELAÇÃO entoa: [...] Sentimento ilhado, morto, amordaçado volta a incomodar. [...]


E é justamente estes sentimentos, como falei, que devem ser vividos em seus momentos próprios. Os nossos problemas devem ser resolvidos cedo ou tarde, mas resolvidos dentro de nós, e não com ansiolíticos ou medicamentos psiquiátricos – estes devem ser usados quando de fato forem necessário - mas em sua larga maioria o remédio está dentro de nós mesmos.


Então! Acabei não adentrando de modo profundo na vida desta pessoa atendida, porque, como disse, entendo que seja papel de psicólogo. Aconselhei como Advogado, e, como amigo, mostrando o quão é belo o mundo e quanto as pessoas são do bem.


A vida é bela. O bom da vida é viver, e, disso não tenho nenhuma dúvida.


Este caso não é um caso isolado para nós Advogados. Cruzamos diariamente com pessoas que só precisam de um “oi” ou serem entendidas como são; serem acolhidas, e não apedrejadas.

Seriamos, de fato, cristãos, ou éticos para os ateus, se acolhêssemos cada irmão que cruza a nossa frente diariamente. Nós Advogados vamos além, temos a obrigação de acolher e entender uma pessoa, mesmo por mais culpada que seja, emprestando-lhe o direito de defesa em sua magnitude.


Os que cerram as fileiras do curso de Direito e que se inscrevem na OAB deverão carregar no coração a certeza que nós Advogados tratamos das chagas morais da sociedade, tal qual os médicos tratam das chagas físicas.


Ninguém de Perto é Normal!

Grande Abraço!


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