Sem querer ferir os princípios da
psicologia, em que os que os analisam em consulta psicológica devem, por
imprescindível, terem logrado diploma de psicólogo com os aprendizados ínsitos
à profissão. Isso eu não tenho!
No entanto, Caetano Veloso arrematou com
precisão em canção Vaca profana de sua autoria, que [..]
ninguém de perto é normal [...]. Deste modo e neste contexto carregaria consigo
traços que, para alguém mais exigente, configuraria um problema/transtorno
de ordem psicológica. Toc, fobia, trauma etc.
Certa feita em conversa com um colega em
trabalho, ele psicólogo renomado no sertão, acabou me confessando que todos
carregam sintomas de “transtornos psicológicos”. No entanto, só se pode
diagnosticar um transtorno - de fato - quando a sintomatologia for acentuada e
que acabe gerando um desconforto contumaz ao paciente.
Pois bem!
Atendo diversas pessoas de todas as
classes sociais e étnicas – do sertão bem sertanejo à praia mais mansa e
tranquila do nosso Sergipe - nestes atendimentos diversos traços são expostos e
eu, por óbvio, devo interpretá-los para que eu possa utilizar em meu trabalho,
quer defendendo-o, quer litigando contrariamente.
No entanto, em alguns momentos a
interpretação somente não basta, o ser humano que mora dentro de mim fala mais
alto e inevitavelmente a acolhida começa ser dada. As vezes temos que fazer uma
intervenção mais carinhosa e típica; noutros momentos não, a intervenção é mais
dura e em outros, ainda, não conseguimos perceber o problema instalado [Que é o
pior!].
Tudo isso, naturalmente, sem adentrar a
seara da psicologia propriamente dita. Quem deve ser analista é o Psicólogo,
todos que tentarem analisar sem formação profissional e preparo técnico poderá
prejudicar sobremodo as pessoas acometidas de devaneios psicológicos ou
psiquiátricos.
Esta semana atendi uma pessoa, por sinal
uma dileta pessoa, que ao que percebi estava duramente abalada e com sintomas
claros de depressão que me deixou preocupadíssimo com o seu estado de saúde.
Tentei encontrar o problema e o motivo
dela chorar e bradar, mas, sinceramente, não o encontrei. A ida ao meu
escritório era para uma coisa tão simples, tão fácil de resolver, que aos olhos
de qualquer um não havia motivo para aquele desespero.
Ou havia?
A literatura psicológica não trata estes
“problemas psicológicos” como um evento isolado, frio e demarcado no tempo.
Pelo o contrário, a literatura psicológica explica estes eventos, em sua larga
maioria, como reflexo de uma vida inteira [Vida infantil, jovial ou até adulta
desregrada do ponto de vista sentimental].
Isso mesmo. Atualmente as pessoas são
instadas a não viver sentimentos ruins: não podem sentir raiva; não podem
sentir medo; não podem sentir a amiga solidão, enfim, não podem chorar sob pena
de serem taxados como fracos.
E por aí vão juntando e guardando estes
sentimentos dentro dos seus corações sem terem vivido. Deixam de viver a raiva,
por exemplo, em seu momento, e, importante dizer, permitindo o perdão em sua
sucessão para ficar com aquela mágoa guardada e sufocada dentro. Libertem-se!
Raimundo FAGNER em brilhante canção
REVELAÇÃO entoa: [...] Sentimento ilhado,
morto, amordaçado volta a incomodar. [...]
E é justamente estes
sentimentos, como falei, que devem ser vividos em seus momentos próprios. Os
nossos problemas devem ser resolvidos cedo ou tarde, mas resolvidos dentro de
nós, e não com ansiolíticos ou medicamentos psiquiátricos – estes devem ser
usados quando de fato forem necessário - mas em sua larga maioria o remédio
está dentro de nós mesmos.
Então! Acabei não
adentrando de modo profundo na vida desta pessoa atendida, porque, como disse,
entendo que seja papel de psicólogo. Aconselhei como Advogado, e, como amigo,
mostrando o quão é belo o mundo e quanto as pessoas são do bem.
A vida é bela. O bom da
vida é viver, e, disso não tenho nenhuma dúvida.
Este caso não é um
caso isolado para nós Advogados. Cruzamos diariamente com pessoas que só
precisam de um “oi” ou serem entendidas como são; serem acolhidas, e não
apedrejadas.
Seriamos, de fato,
cristãos, ou éticos para os ateus, se acolhêssemos cada irmão que cruza a nossa
frente diariamente. Nós Advogados vamos além, temos a obrigação de acolher e
entender uma pessoa, mesmo por mais culpada que seja, emprestando-lhe o direito
de defesa em sua magnitude.
Os que cerram as
fileiras do curso de Direito e que se inscrevem na OAB deverão carregar no
coração a certeza que nós Advogados tratamos das chagas morais da sociedade,
tal qual os médicos tratam das chagas físicas.
Ninguém de Perto é
Normal!
Grande Abraço!
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