Segue poesia de um brilhante poeta e, também, da área do Direito [Juiz Federal] Marcos Mairton!
POESIA E MAGISTRATURA
Marcos Mairton
Certa
vez, fui perguntado
Sobre
como eu conseguia
Dedicar-me
à poesia
Sendo
eu um magistrado.
Vivendo
tão ocupado,
Com
as questões do Direito,
Como
é que dava jeito
Para
escrever rimando,
E
também metrificando,
Fazendo
verso perfeito?
Eu,
antes de responder,
Calado,
pensei assim:
Quem
pergunta isso pra mim
Não
conhece o “métier”
De
quem tem que resolver
Toda
sorte de conflito.
Que
de perto escuta o grito
Da
nossa sociedade
Clamando
por igualdade,
Pedindo
pena ao delito.
Ser
poeta e ser juiz
O
que há de estranho nisso,
Pra
quem tem o compromisso
De
ouvir a parte o que diz?
Que
vê o olhar feliz
De
quem ganhou a questão
E
tem a satisfação
De
sentir que fez Justiça
Reparando
a injustiça
Que
atingiu o cidadão?
Eu
penso que a poesia
Está
em todo lugar,
E
quem vive a julgar
A
encontra todo dia:
Quando
o parquet denuncia
Quando
o réu faz sua defesa
Quando
a polícia traz presa,
Gente
por ela detida,
É
a poesia da vida
Que
me chega de surpresa!
A
poesia aparece
Quando
o advogado
No
pedido formulado
Diz:
– Doutor, ela merece,
Todo
dia sobe e desce
A
ladeira da “Queimada”
Carregando
uma enxada
Para
trabalhar na roça
Não
é justo que não possa
Ser
agora aposentada.
A
poesia é presente
No
olhar do acusado
Seja
quando é culpado,
Seja
quando é inocente.
Na
testemunha que mente,
E
na que fala a verdade.
Na
imparcialidade
Que
todo juiz queria.
Veja
quanta poesia
Em
nossa realidade.
Por
isso eu acho normal
Que
todo bom magistrado
Venha
a ser considerado
Poeta
em potencial.
Incorre
em erro fatal
Quem
quiser fazer sentença
Somente
com o que pensa
Sem
revelar o que sente.
Um
juiz desse, é urgente
Que
se afaste, de licença.
Tulio
Liebman lecionava,
Que
a sentença é assim,
Vem
de “sentire”, em latim,
E,
dessa forma, ensinava:
Que
na sentença se grava
Não
somente o pensamento,
Mas
também o sentimento
Do
juiz que a profere.
Que
ninguém desconsidere
Esse
grande ensinamento.
Se
o poeta, realmente,
Não
é mais que um “sentidor”.
Que
chega a sentir que é dor
“A
dor que deveras sente”,
Juiz
não é diferente
Quando
cumpre sua função.
Mesmo
quando a decisão
Em
versos não se transforma
Na
aplicação da norma
Há
uma carga de emoção.
Fique
tranqüilo, portanto,
Meu
colega, magistrado,
Se,
agora, aí sentado,
Lhe
surpreender o pranto.
Pois
não será por encanto,
Magia
ou maldição.
É
só manifestação,
Que
nesse instante sentiste,
Do
poeta que existe
Dentro
do seu coração.
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