quarta-feira, 17 de abril de 2019

POESIA MATUTA 
FELICIDADE NO SERTÃO
Leandro Góis - 03/12/2015


O dia já tá raiano
Por volta das cinco hora
Vou cuidá de levantá
Por Deus e Nossa Sinhora
E do gado tirá o Leite
Mulher logo se ajeite
E vamu pra lida agora...
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Abro o zóio e obsevu
Da casa a arrumação
Me dá um orgúi danado
De ter fazido a construção
Mermo sem rebocá
E as parede nun acabá
Desta bunita mansão...
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Meu quarto é invocado
Só nun tem televisão
Mas tem tudo que precisu
É grande a arrumação!
Tem pinico e ventilador
Muringa e Cobertor
E boa ventilação...
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Camiseiro num tem
Mas as roupa é guardada
Com muito cuidado
E numa caixa é imalada
Pra quando eu precisar
Pra festa passear
Nun teja ela amassada...
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Na frente tem umas frô
Passarinho na Gaiola
Por dento tem uma grande
Imagi de Nossa Sinhora
Que serve pra abençoá
As pessoa do lugá
E pra espantá Caipora!
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O quintá é um colosso
A redó de minha casinha
Crio porco e Guiné
No pulêru umas Galinha
Umas Vaca e Nuvia
Que sustenta a famía
E umas dez cabritinha
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Nun sou de recramá
Nem sei o que é depressão
As vezes fico nervoso
Mas vem logo animação
Os probema se finda
E a vida se anima
Nas quebradas do sertão...
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Um tal de financiamento
O que é não vou saber
E nem cartão de crédu
Nunca tive e não vou ter
Nun sei o que é SPC
Se brincar ele vai ser
Uma emissora de TV...
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As viage que eu faço
É pra fêra na cidade
E pra o Zistaduzunido
De ir nunca tive vontade
Tenho medo de avião
E de navio nun vou não
Gosto é da simplicidade!
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Ainda fui pra Sumpalu
Lá na minha mininice
Tentar ganhá a vida
Minha maió burrice
Lá nun escutei um bom dia
E tudo que lá eu via
Era coisa muito triste...
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O Whisky e a Vodka
Que me faz animação
É a pinga do butecu
Cum caju e cum limão
O granfino 21
E também o 51
É a minha ostentação
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Uma mota eu comprei
Pra eu andá muntado
Passear com a famía
E tombém dá uns recado
Cuidá da prantacão
E quem sabe com razão
Me levar pra apartar o gado...
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Minha praia é a barrage
Meu cinema televisão
Meu passeio um jogo
E Pau de Arara a condução
Vaqueijada meu esporte
Eu tenho é muita sorte
Nessa minha ostentação...
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É sempre o que digo
A voceis da capitá
Vida boa é a do roça
Sem muito se preocupar
Nóis nun veve atôa
Nossa vida é muito boa
Mió que essa nun há...
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A coisa que me aperreia
Nem gosto de comentar
É quando aperta a seca
Aqui no meu lugar
Mas tem problema não
Porque sou do sertão
E tenho que me acostumar...
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As água que ainda sobra
Do tanque é retirada
O cuidado tem que ter
Pra ela nun ser buzada
Das muinta solução
É botá no pote e no purrão
Pra ser ela armazenada...
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Apesar desta seca
Carença nun tem muita não
Nunca fartou uma farinha
Com arroz e bom feijão
Carne tem bem pouquinha
Mas juntamu cun as Galinha
E uns ligume da prantação...
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Estudá nun estudei
Só aprendi assiná
Meu nome agarranxado
E um pouco de somá
Nun tenho leitxura não
Mas tivi Educão
Das mió do meu lugá
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Meu Pai era Analfabeto
Minha mãe era também
Mas sempre mim insinuaru
Nada pegá de ninguém
Sempre bem proceder
E crime nun cometer
E ser homi de bem...
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Analfabetos das letras
E doutor da simplicidade
Isso é muito difícil
De encontrar na atualidade
Nós veve com alegria
E não falta todo dia
Momentos de felicidade...
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A herança que eu tive
Do falecido meu pai
Não foi terra e nem ouro
Ou valores capitais
Foi muita honestidade
E muita dignidade
E tantas outras mais...
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E agora eu te pergunto:
Vale a pena a vaidade
Achar que nunca tá bom
E reclamar pela cidade
Será que o melhor remédio
Não seria o que não dá tédio
A simples simplicidade?
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A vedadeira verdade
E que é a melhor solução
Pra vivermos mais felizes
E com grande satisfação
É sempre agradecer
E também esquecer
De fazer reclamação
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Por aqui finalizamos
A estória de simplicidade
Dum homem do campo
Que vive sem vaidade
Mas tem alegre alegria
E de noite e de dia
Vive com felicidade
F#I#M#

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