MEMÓRIAS DE UM ANCIÃO INFELIZ
Por: Jorge Leandro Carvalho Gois
Sábado, 18 de Julho de 2015 - 16:14
***
Já são duas da manhã
E eu não consigo dormir
As lágrimas me tomaram
Sinto muito, terei que admitir
Que na vida tudo que eu fiz
Só me tornou infeliz
E só agora eu percebi
***
Meus olhos lacrimejam
Na cama deste hospital
A dor que me corrói
Não é a dor corporal
É aquela de saber
Que muito podia fazer
Mas eu fui irracional...
***
Passei a vida pensando
Que a riqueza traria felicidade
Comprei todos os bens
Que tive capacidade
Fazendas e uma mansão
Automóvel e um avião
E um apartamento na cidade
***
Meu peito era forrado
De ouro e de esmeralda
A corrente que eu usava
Era a que mais custava
Anéis na minha mão
Pulseira por decoração
E outros que eu ostentava
***
Os Passeios mais caros
Viagens Internacionais
Conheci várias culturas
Em diferentes locais
De Tókio a Jerusalém
Da Europa a Belém
E de tantas outras mais...
***
As mulheres que eu tinha
Eram as mais cobiçadas
Modelos, cantoras e artistas
Eram garotas renomadas
E quando a idade fluía
E a beleza diminuía
O relacionamento eu acabava
***
E fui levando a vida
Nesse cinema de ilusão
Onde pensava que vivia
Mas era tudo enganação
Um estelionato eu pratiquei
E na prisão me aprisionei
Denominada Solidão
***
Meus batimentos cardíacos
Começaram a diminuir
Penso agora em tanta coisa
Quero logo me despedir
Mas ainda deve ser relembrado
Dum fato que foi relegado
Que quando menino vivi
***
Certo dia quando criança
Um ancião me mandou pensar
No sentido da minha vida
Que era pra analisar
Qual seria o objetivo
E também o motivo
Pra eu nessa vida está
***
Sem saber fui perguntar
Respondeu FELICIDADE
E mandou eu me portar
Com real simplicidade:
Usando o coração
E um punhado de razão
E também de humildade...
***
Como pode observar
Esse conselho eu esqueci
E o acúmulo de riqueza
Com felicidade eu confundi
Firmei profunda teoria
Que com dinheiro eu compraria
FELICIDADE e o que pudesse vir
***
O dinheiro e o poder
Guiaram o meu destino
Eu podia ter lembrado
Do conselho de menino
E ter tido mais paciência
E vivido a essência
Mundando todo esse destino...
***
As coisas mais simples
Devia ter valorizado
Amigos e parentes
Devia tê-los amados
Dando sempre atenção
E o que sentia no coração
Deveria também ter falado...
***
Eu devia ter amado mais
Ter dito que eu sentia
Ter ajudado muito mais
E perdoar a quem me ofendia
Como objeto a ninguém tratar
E logo ter ido cuidar
De todos que bem me queria...
***
Aqui estou sozinho
Mesmo muito acompanhado
Por diversos enfermeiros
E médicos pra todo lado
Movidos pelo capital
Que eu pago a esse hospital
Ou Meu Deus, isso é um fardo!
***
A vontade que me dá
Inveja ou sei lá o quê
Era que um parente meu
Viesse aqui me vê
Um filho, um sobrinho
Um Neto com carinho
Mas não vejo aparecer...
***
Pensei que a família
Nao merecesse Importância
Sempre a tratei mal
E com larga ignorância
Fui rude e mal educado
Mas sempre fui bem tratado
E pagava com arrogância
***
Humilhei e pisei
Quem também me adorava
Meus amigos de infância
Fingi que não eram nada
O que dinheiro não tinha
Pra mim não existia
E nem mesmo o cumprimentava
***
Aqueles que frequentavam
Meus banquetes sofisticados
Na doença eu nunca vi
E por eles nunca fui visitado
Nem mesmo uma ligação
Ou pequena atenção
A esse velho abandonado!
***
Se eu pudesse voltar a vida
Minha verdadeira vontade
Não é ter tido mais dinheiro
Poder ou propriedade
Era valorizar mais o coração
Sentir a emoção
E praticar a simplicidade
***
Pra quê complicar a vida
E o obstáculo produzir?
Quando você pensa no ruin
O mal tende a atrair
Viva na simplicidade
Falando somente a verdade
Que o bem estará por vir
***
Os bens que deixarei
Não mais me servirão
Gaveta não existirá
Dentro do meu caixão
A mortalha bolso não tem
E não levarei nenhum vintém
A não ser minha boa ação
***
Vou dizer a quem me ouve
Que só agora eu percebi
Já velhinho e doente
Que nessa vida eu fali
Rico de bens materiais
Falido nos sentimentais
Me pergunto pra quê vivi...
***
O conselho que te dou
A quem ainda tem oportunidade:
Aproveite o que é simples
E tenha mais humildade
Use o seu coração
E um punhado de razão
Pra alcançar a felicidade!
***
Por aqui eu finalizo
E logo vou me despedindo
Essa vida é traiçoeira
Cuidado: Não vá se iludindo
Valorize o que é certo
Seja sempre correto
Abraços e por aqui eu findo!
*FIM*
Nenhum comentário:
Postar um comentário